quarta-feira, 10 de setembro de 2008

ELO DA CORRENTE (Michel da Silva)


Nossa gente está em busca de voz nesse todo que constitui á sociedade brasileira, porém muitas pessoas ainda dão as costas pras nossas músicas, escritos e opiniões. Outros nos vêem como coitados precisando de ajuda e só consideram a palavra dos doutores e dos assistencialistas. Na visão deles nossos semelhantes deixam de ser a Dona Maria, o Seu João e passam a ser um simples objeto de estudo. Essa elite desmerece e muita vezes nem ouve o que temos a dizer. Outra realidade é o descaso dos políticos que só lembram de nóis pra fazer promessas e pedir votos.

Na periferia existe arte, produção de conhecimento, educação, cultura própria, resistência, sentimentos, crenças e valores que devem ser respeitados antes de qualquer coisa, assim esta representada nossa cena, nossa história.

Pra superar nossas dificuldades não há uma resposta simples. Mas uma coisa é certa, se percebemos essa injustiça como fato consumado e sentimos necessidade de mudanças, precisamos, primeiramente, nos reconhecer como pertencentes dessa vivência, nos reconhecer como um povo de cultura periférica. Uma cultura de pessoas criativas desde criança, fazendo as brincadeiras, o menino inventando o carrinho, a menina imaginando a boneca, que passam no comercial da tv e nossos pais não tem dinheiro pra comprar.

O que me faz sentir orgulho de ser periférico, em meio a tantas lutas é a lembrança dos manos, das minas, dos verdadeiros irmãos, da família, das nossas mães guerreiras, nossas rainhas do lar. Assim percebi como tem vários semelhantes encontrando um motivo pra sorrir quando compartilham nossas histórias em comum. Histórias que começaram com bolinha de gude, amarelinha, rodando pião, pulando corda, soltando pipa e jogando futebol no campinho, bem menos se vê isso hoje, infelizmente.

Quando jovens e adultos, muitas vezes, nos esquecemos daquilo que nos fazia sorrir, devido ás responsabilidades e a percepção de vida difícil presente muito cedo em nossas consciências. A possibilidade de crianças e adolescentes se tornarem adultos precoces na periferia é muito grande, lidando com preconceito, desigualdade social, trabalho, família desestruturada, amigos e parentes na criminalidade, muitas vezes vitimas fatais. É necessário ficar ligeiro, pois qualquer piscar de olhos resulta num confronto direto com essas situações.

Um truta da faculdade um dia me perguntou, depois de visitar nossa Vila, como nóis conseguimos superar a vida do crime, fiquei sem palavras, pois ainda há muitas pessoas aqui que não tiveram a mesma oportunidade. A resposta pra tal pergunta eu não tenho, essa mágica está por vir, como dizem nossos poetas. Acredito no Rap, nas Rádios Comunitárias e na Literatura de escritores periféricos como formas de resgate da auto-estima e valor que me identifico. Foi conhecendo e participando dessas expressões que me convenci como nossos irmãos e irmãs são capazes de nos inspirar em novas perspectivas de vida.

As idéias e o debate sobre nosso direito de visibilidade estão evidentes na mídia, nas universidades e no dia a dia do cotidiano brasileiro, mas ainda é pouco, devemos insistir, nossa participação nesses espaços mudam o rumo das conversas. Não podemos ficar dependentes de manchetes criminais e do pedido de paz da elite, que se sente ameaçada, nos chama de suspeitos, apóiam o genocídio feito pelos homens da lei na favela e continuam decidindo o que fazer sobre nossas dificuldades. Senão, polícia e cadeia vão continuar sendo, na opinião deles, solução pros nossos problemas, por que pra eles, nóis somos um problema.

Aqueles que nunca foram ouvidos agora querem falar, escrever, se expressar e estes somos noís, firmando nossa cultura e dignidade, sempre negada e dependente de migalhas.
Cada elo da corrente, guerreiro é valioso, sou linha de frente na defesa do meu povo.

Fé em Deus e paz.

Um comentário:

Anônimo disse...

o mano satisfação

Esse texto ta gravado em cima de base e vai sair no cd do Alerta ao Sistema, grupo que a Raka canta,

satisfação meso Fuzzil

ta lendo sobre ti hoje mesmo
na apostila que o allan da Rosa fez sobre oficina de literatura sugerindo trampar com a sua poesia

Já é , posso trampar, firma ??

Um abraço

Michel